sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Alunos de musculação tomam "bomba"



Um estudo realizado com praticantes de musculação de nove grandes academias de ginástica da cidade de São Paulo mostrou que 26% deles tomam drogas ou suplementos alimentares para aumentar a massa muscular, a força ou melhorar o desempenho. Deles, apenas 6,1% o faziam com prescrição médica.

"O número de usuários dessas drogas pode estar subestimado, pois muitos não contam que as utilizam", diz o ortopedista Fábio Augusto Caporrino, do Centro de Traumato-ortopedia do Esporte da Unifesp, um dos autores da pesquisa. O trabalho foi realizado com
247 alunos que praticavam musculação - 183 homens e 64 mulheres. Dos que tomavam suplementos alimentares, apenas 23,2%
o faziam com orientação nutricional.

As principais drogas utilizadas pelos atletas são a creatina (consumida por
22,7% dos usuários), os esteróides anabólicos (13,7%), o hormônio do crescimento e a insulina (1,6% cada).
"Eles conseguem os remédios no mercado negro, o que pode ser mais arriscado, já que não existe controle do produto. Muitas vezes, essas drogas são impuras e causam mais efeitos colaterais", diz Caporrino. "Além de tomar remédio sem prescrição, às doses ingeridas vão muito além das terapêuticas". Completa.

Dos atletas de competição
(7,3% do total), 97%
disseram que usaram anabólicos esteróides, hormônio do crescimento ou ambas. De acordo com o ortopedista, o uso incorreto dessas duas drogas pode causar problemas cardiovasculares, tumores no fígado e nos rins, além de um maior número de infecções na pele e ruptura de músculos e tendões.

Continua

Alunos de musculação tomam "bomba"

Caporrino, autor do estudo:
"Os atletas conseguem os remédios no mercado negro, o que pode ser mais arriscado, já que não existe controle do produto. Muitas vezes, essas drogas são impuras e causam mais efeitos colaterais".

Lesões.

O estudo também mostrou que as principais lesões relatadas pelos praticantes de musculação foram as de coluna lombar (23,7%), seguida das lesões de ombro
(21,1%) e do punho (13,9%). O tempo de afastamento do esporte para quem se machucou foi de quase um mês.

As lesões na coluna ocorrem porque ela é a parte mais utilizada do corpo e submetida à sustentação de maior quantidade da carga. De acordo com Caporrino, as principais causas de lesões são sobrecarga da região ou falta de alongamento. "O encurtamento dos músculos da parte posterior da coxa faz o esportista ter postura errada, o que propicia chance maior de lesar a coluna", diz ele.

Já as lesões no ombro ocorrem por estiramento da musculatura ou também por movimentos de repetição. Geralmente, esse tipo de lesão é causado por desequilíbrio, excesso de treino e menor flexibilidade do ombro. A terceira lesão mais comum - a de punho - ocorre pelo fato de a área estar envolvida na própria técnica de levantamento de pesos. "Estão incluídos aí quase todos os exercícios, sejam para o braço, tronco ou pernas", diz Caporrino.

Continua


Alunos de musculação tomam "bomba"

Pés e tornozelos são as regiões menos prejudicadas. "A musculação não trabalha com movimentação lateral ou movimentos de rotação", diz Caporrino, que também é professor da Disciplina de Cirurgia da Mão da Unifesp. O maior problema, segundo ele, é o número de pessoas que pratica a atividade sem orientação.

"Muitos praticantes também acabam colocando uma carga muito acima da indicada para sua condição física", acrescenta o ortopedista. De acordo com ele, deve-se fazer uma avaliação médica e física para se definir até que ponto o aluno deve ir. Além disso, é muito importante que sejam seguidas as orientações e que se faça alongamento antes e após os exercícios.

No trabalho, as entrevistas com os esportistas foram feitas em vários horários, para não serem colhidos informações com o mesmo público. Para serem consideradas atletas de musculação, as pessoas tinham de praticar o esporte há pelo menos um ano, com três sessões semanais com duração mínima de
45 minutos. Dos competidores, todos já tiveram algum tipo de lesão, e 47%
já tiveram duas ou mais lesões. Apesar do grande número de relatos de lesões, 90% dos praticantes tiveram alguma orientação com relação aos exercícios.

Dor nas costas é a principal queixa na ginástica de academia




Certo x Errado:
Em cima exercícios praticados nas posições corretas.
Em baixo, de forma incorreta.
A prática inadequada das diversas modalidades aumenta

Isabel Adélia Castro.

Quase um terço dos praticantes do body pump - moda nas academias de ginástica - sofre de dor nas costas. Esse é um dos resultados do maior estudo realizado em academias brasileiras. O trabalho foi feito com 408 alunos de nove grandes academias de São Paulo, (18 somando com as filiais), além de 17 de outras capitais.

Na modalidade do body pump (que mistura ginástica com musculação), a dor nas costas atingiu
28,5% dos 97
entrevistados. "Essa modalidade força sempre a mesma musculatura e articulação", explica Laíra Campêllo, a principal autora do trabalho, que foi realizado pelo CeTe ( Centro de Traumato-ortopedia do Esporte) da Unifesp. Segundo ela, o exercício deveria ser acompanhado por dois professores: um aplicando a atividade e outro orientando. Mas só três academias tinham dois professores.

O spinning, outra modalidade, na qual os exercícios são feitos em uma bicicleta totalmente ajustável, tem como principal problema às lesões no joelho, que atingiram
17,6% dos 88
praticantes da modalidade. "Os professores devem acompanhar os alunos ajustando corretamente a bicicleta", diz a médica e professora de educação física. "O aluno, muitas vezes, chega atrasado e utiliza o equipamento do jeito que está. Com a posição inadequada, o joelho e a coluna são forçados". Completa Laíra.

Continua










Dor nas costas é a principal queixa na ginástica de academia

Laíra Campêllo, médica do esporte: mau posicionamento e exercícios
repetitivos podem causar lesões

Surgido nos Estados Unidos, o step é outra modalidade, em que profissionais da área estudaram e criaram movimentos básicos que deveriam ser seguidos por todos os professores do exercício. "Perdeu-se o controle da modalidade porque outros profissionais inventaram movimentos", diz Laíra.

Para ela, as coreografias do step ficaram extremamente complexas, e muito, alunos não estavam em condições de acompanhá-las. As principais queixas relatadas variaram entre dores no tornozelo, joelho, ombro e articulações de forma geral. A que menos causa lesões é a ginástica localizada. "Quase não tivemos referência de lesão nessa modalidade. A aula é menos agressiva. O professor olha e controla mais do que faz", diz Laíra.

O acúmulo de exercícios, isto é, a prática de várias aulas seguidas, aumenta a predisposição para as lesões. Para a autora, não existe preocupação ou controle quanto à aptidão do aluno para o exercício. "Os alunos fazem qualquer modalidade, mesmo não tendo capacidade", diz Laíra. Para a autora, as aulas se tornam inadequadas quando as turmas são muito heterogêneas. "A aula não é ideal tanto para o iniciante quanto para quem já pratica", explica a pesquisadora.

Profissionais.
Outro aspecto importante observado no estudo foi o fato de que apenas duas academias, das nove de São Paulo, não tinham profissionais dando aulas. "As academias pagam mal. Quem se especializa não dá aulas porque fica inviável", diz Laíra. Ela ainda observa que o médico que faz a avaliação do aluno muitas vezes também não é especializado. "Quem faz atividades em academias deve saber se ela tem um setor de avaliação física e médica", recomenda a médica.